Estudo - Espiritualidade na História da Humanidade


Reencarnação - História - Os "Mistérios"

   A reencarnação não nasceu com o Espiritismo, como muitos pensam. Assim como a mediunidade, a reencarnação, como um fenômeno natural, sempre existiu.  Os espíritos, antigamente tidos como "deuses",  a ensinaram a diversos povos durante a História.

   Conhecida como Palingenesia (palin, de novo, gênesis de nascimento) entre os povos da Antigüidade, a Reencarnação significa o retornar do Espírito ao corpo tantas vezes quantas se tornem necessárias para o auto-burilamento, libertando-se das paixões e adquirindo experiências superiores, sublimando as expressões do instinto ao mesmo tempo em que desenvolve a inteligência e penetra nas potencialidades transcendentes da intuição. É o renascimento no corpo físico.

    Na Índia que se cristalizaram as noções da imortalidade da alma e das vidas sucessivas. Os cânticos sagrados dos Vedas, que abrigam os fundamentos das concepções filosóficas orientais, eram transmitidos no princípio pela tradição oral, tendo sido compilados por um sábio brâmane cerca de 14 séculos antes de Cristo. Já aludiam aos renascimentos, mas, como todos os ensinamentos antigos, encerravam duas doutrinas: a "científica", reservada aos adeptos mais esclarecidos, e a "simbólica", ministrada sob a forma de alegorias a massa que não estava em condições de assimilar as grandes verdades.

    "Para os 'iniciados', a ascensão era gradual e progressiva, sem regressão as formas inferiores, enquanto ao povo, pouco evoluído, era ensinado que as almas ruins deviam renascer em corpos de animais (metempsicose)"  (Gabriel Delanne em "A Reencarnação").

    O "Código de Manu", o mais antigo corpo de leis de que se tem notícia, menciona a reencarnação. Manu, que codificou as leis hindus mais de 3 mil anos antes da nossa Era, não poderia supor que sua obra viesse a inspirar o "Corpus Juris Civillis" de Justiniano, e por essa forma servir de fonte para todos os legisladores modernos.

      Com o advento do Bramanismo, surgiu o "Bhagavad-Gitã", que é um cântico à imortalidade e ao renascimento das almas. O mais notável missionário dessa época foi Kristna, que renovou  as doutrinas védicas e espalhou na região do Himalaia os mais sublimes ensinamentos.

     Buda, o grande filósofo místico que viveu na Índia 600 anos antes da Era Cristã, pregava que:

     "O Conhecimento e o amor são os dois fatores essenciais do Universo. Enquanto não adquire o amor, o ser está condenado a prosseguir na série de reencarnações terrestres" (Cit. por Léon Denis em "Depois da Morte").

      O velho Egito recebeu da Índia, segundo alguns orientalistas, a sua civilização e a sua fé. Segundo outros, suas próprias tradições remontam a mais de 30 mil anos. A doutrina oculta dos seus sacerdotes, cuidadosamente velada sob os "mistérios"  de Isis e Osiris, achava-se exposta nos "livros sagrados" de Hermes Trismegisto.

      Pitágoras passou 30 anos no Egito e introduziu na Grécia a doutrina  dos renascimentos também em duas versões: Delfos, Olímpia e Elêusis eram os centros da doutrina iniciativa, onde os filósofos e artistas iam assimilar os "mistérios".

  "Como no Egito e na India, consistiam os "mistérios"  no conhecimento do segredo da morte, na revelação das vidas sucessivas e na comunicação com o mundo oculto." (Leon Denis, "Depois da Morte").

    A obra de Pitágoras foi continuada por Sócrates e Platão, tendo este último ido ao Egito para iniciar-se nos "mistérios". Ao voltar, expunha suas idéias sob forma velada, pois sua condição de "iniciado" não mais lhe permitia falar livremente. Apesar disso, encontram-se no "Fédom" e no "Banquete" referências à teoria das migrações das almas e das suas reencarnações.

    Os Órficos, que representavam a casta do sistema religioso mais avançado dos gregos,  expunham  sua concepção palingenésica numa roupagem filosoficamente avançada. Eurípedes, Platão, Heródoto, Aristófanes e Aristóteles nos deixaram escritos sobre o orfismo, e sabemos o quanto Platão deve aos mistérios órficos em sua filosofia, especialmente no que concerne à doutrina da reencarnação. É bem provável que o homem Orfeu tenha tido uma forte influência mística na cultura grega no início do século VI AC.

    Nem todos os gregos consideravam críveis ou aceitáveis os pressupostos da religião pública, recheada de deuses bastante humanos. Por isso, em círculos restritos, desenvolveram-se os chamados "mistérios", com elementos da religiosidade oriental, tendo suas crenças mais logicamente enlaçadas e seus próprios rituais reconhecidamente simbólicos e com forte conteúdo arquetípico-psicológico. O orfismo é particularmente importante porque introduz na civilização grega uma nova interpretação da existência humana. Enquanto a concepção tradicional, desde Homero, considerava o homem com uma alma desconhecida, que se perdia na região do Hades após a morte, quase como um fim total da existência humana, o orfismo proclama a imortalidade da alma, sendo esta o que dá a personalidade do homem, herdeira de uma história e de um trajeto evolutivo, sempre se aperfeiçoando nesta e em inúmeras outras vidas, até que consiga se assemelhar ao máximo a Deus.

       As idéias sobre as vidas sucessivas penetraram no mundo romano, pois Cícero a elas alude no "Sonho de Scipião" (Cap. II), e Ovídio nas "Metamorfoses" (Cap. IX). No VI Livro da "Eneida" vê se que Enéas encontra seu pai nos Campos Elíseos e este lhe transmite a lei dos renascimentos.

   Virgílio escreveu:

   "Todas essas almas, depois de haverem por milhares de anos girado em torno dessa existência (no Elísio ou no Tártaro), são chamadas por Deus em grandes enxames para o rio Letes, a fim de que, privadas da lembrança, revejam os lugares superiores e convexos e comecem a querer voltar ao corpo" (cit. por Gabriel Delanne, em "A Reencarnação", 5a ed., página 28)

     Na Gália, os Druidas se comunicavam com os mortos e certamente veio através da mediunidade o conhecimento sobre as vidas sucessivas. Os Gauleses acreditavam nas vidas sucessivas, em termos semelhantes aos gregos e budistas. Assim se expressou Lucano no Canto I da "Farsália": "Para nós as almas não se sepultam nos sombrios reinos do Érebo, mas sim voam a animar outros corpos em novos mundos" (Cit. por Léon Denis, em "Depois da Morte", página 58). César escreveu na Guerra de Gales: "Uma crença que eles buscam sempre estabelecer, é que as almas não perecem de forma alguma e que após a morte elas passam de um corpo para outro."

    Th. Pascal em seu "Evolution Humaine" (página 263) afirma que entre os islamitas se acreditava na reencarnação, mas que esta crença cessou depois que Maomé a proibiu. No entanto, o novo "Corão", exposição moderna de uma parte da doutrina secreta(os "mistérios") do Islam, diz:

    "O homem que morre vai a Deus e renasce, mais tarde, em um corpo novo. O cadáver fica no túmulo, o Espírito volta à matriz (...) Os que se amam, se encontram em futuras encarnações" (Questão XXIII, vs. 17  e 27, cit. por Mário Cavalcanti de Mello, em "Como os Teólogos Refutam", páginas 101/102).

     Os hebreus na fase helênica não desconheciam a reencarnação sobretudo pelo intercâmbio com o mundo greco-romano, donde a idéia de ressurreição ter algo confuso da idéia da reencarnação.

  Conforme Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo: "A Reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de Ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era a de que tudo acabava com a morte, não acreditavam nisso. As idéias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo. Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem saber precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo nome Ressurreição o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama Reencarnação. Com efeito, a Ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e absorvidos. "

   Os apologistas cristãos criticam muito essa afirmação, mas é bom deixar claro que Kardec não disse que Lázaro "reencarnou" ou que Jesus "reencarnou". Mesmo esses dois casos são distintos, pois Lázaro, que foi salvo por Jesus de uma doença (a letargia), não apareceu com o "corpo glorioso" de Jesus, que se manifestou após o desencarne, como um espírito materializado. Foi a ressurreição espiritual que todos nós veremos um dia quando não precisarmos mais vir ao mundo exceto em missão:

 "Porquanto, quando ressuscitarem dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento, mas serão como os anjos que estão nos céus." (Marcos 12:25)

 Serão como anjos, ou seja, espíritos de luz e não carne e sangue como Lázaro.

 E há outro sentido para "ressurreição" que só pode ser entendido como reencarnação.

 É sabido que a crença dos hebreus no início era o “Sheol", o mundo dos mortos abaixo da Terra. A idéia da ressurreição na doutrina judaica e cristã como conhecemos começou quando os judeus foram capturados em Israel e levados para o exílio babilônico. Mais tarde, em 539 AC, Babilônia foi conquistada pelos persas, que impuseram ao império babilônico derrotado uma teocracia do Zoroastrismo. Foi aí, então, que a religião do Zoroastrismo com sua doutrina de ressurreição começou a exercer uma tremenda influência no Judaísmo. O Cristianismo, por sua vez, herdou o conceito de ressurreição do Judaísmo. De fato, é o Zoroastrismo a origem da ressurreição, a crença nos anjos(incluindo Satanás, como o anjo caído e rival de Deus) , o Juízo Final e outros conceitos.

     Os hebreus depois passaram a viver em uma mistura de crenças. Conceitos gregos e neo-platônicos de reencarnação, ressurreição persa, velhas idéias hebraicas de "Sheol",  várias outras religiões e filosofias co-existiam entre os judeus naqueles tempos.

      No tempo do Cristo havia profecias sobre a volta dos profetas, como Elias, e isso não poderia ser dentro do conceito de ressurreição que eles adquiriram dos Persas, onde os mortos se levantam somente no Juízo final.

 Quando Jesus perguntou a seus discípulos o que diziam dele no povo, eles responderam: "Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros Jeremias, ou qualquer um dos antigos profetas que vieram ao mundo." Os pais de Jesus eram conhecidos, portanto não poderia ser de uma ressurreição da carne que eles falavam. A reencarnação era uma crença conhecida, se fosse uma heresia, obra de “Satanás”, como muitos dizem, então Jesus com certeza os criticaria de cara por cogitarem disso. Mas apenas perguntou: “E vós, quem acreditam que sou?".  Em João 1:21 também perguntam a João Batista se ele era Elias. Além de Jesus e João  não serem homens que levantaram dos túmulos, tem outra coisa: a idéia inicial de ressurreição dos judeus, copiada do Zoroastrismo persa, seria apenas no juízo final, para a eternidade, e não para habitar a Terra. Mas aqui nesse caso de "ressurreição" já havia a influência dos gregos, que acreditavam na reencarnação..

     Os hebreus acreditavam que o retorno de Elias sobre a Terra devia preceder o do Messias.  Isto porque, no Evangelho, quando seus discípulos perguntaram a Jesus se Elias voltaria, ele respondeu afirmativamente dizendo: "Elias já veio e não o reconheceram, mas eles lhe tem feito tudo o que havia sido predito." E seus discípulos compreenderam, diz o Evangelista, que era de João que lhes falava, provando que eles conheciam a idéia da reencarnação e Jesus, que conhecia o pensamento íntimo de cada um, não negou a idéia.

      Na Idade Média, os hebreus compilaram  na Cabala os "mistérios" herdados através da tradição oral.

    "Os iniciados judaicos, em épocas remotas, haviam registrado a doutrina secreta em 2 obras célebres: o ZOHAR e o SCPHER-JESIRAH, - que juntas formaram a "CABALA", uma das obras capitais da ciência esotérica" (Gabriel Delanne, em "Depois da Morte, pg. 80)

  A Cabala é o ensino secreto dos israelitas, e foi nela que se conservaram ocultos os pontos mais elevados da doutrina, que não podiam ser ensinados publicamente. O ensinamentos das reencarnações das almas acha-se claramente expresso no ZOHAR:

   "Todas as almas são submetidas às provas das transmigrações. Os homens não conhecem o caminho do Mais Alto, não sabem como são julgados em todos os tempos e ignoram por quantos sofrimentos e transformações misteriosas devem passar(...) As almas devem, finalmente, mergulhar na substância de onde saíram. Porém antes devem ter desenvolvido todas as perfeições cujos germes estão plantados nelas; mas se estas condições não são realizadas em uma existência, renascerão até que tenham atingido sua absorção em Deus" (Cit. por Franck, em "La Kabbale", página 244).

    "De acordo com a "Cabala" as encarnações ocorrem a longos intervalos. As almas esquecem o seu passado e, longe de constituir uma punição, os renascimentos são uma benção, que permite aos homens o seu desenvolvimento para atingirem o seu fim" (Mário Cavalcante de Mello, em "Como os Teólogos Refutam", página 120).

      Essênios, fariseus e saduceus constituíam as seitas em que se dividia o judaísmo na época de Jesus. Dessas, só os saduceus, cuja crença era a de que tudo acabava com a morte, não acreditavam na reencarnação. Flávio Josepho, escritor judeu dos tempos do Cristo(morreu no ano 98) escreveu sobre essas seitas.

   Os essênios, segundo Flávio Josepho, acreditavam na preexistência da alma. E o que chama a atenção nos pergaminhos do Mar Morto escritos pelos essênios é que eles esperavam a volta do Messias como Melquisedeque "redivivus" (reencarnado), e a Bíblia dá fortes evidências de que o rei Melquisedeque reencarnou como Jesus. No "Hino Melquisedeque, o príncipe celeste", Melquisedeque é retratado presidindo ao julgamento final e à condenação de sua contraparte demoníaca(como "Satanás")  Mais uma semelhança entre Cristo e Melquisedeque, pois o mesmo é dito sobre Jesus em Mateus 25:31-46. Agora, toda essa escatologia(tanto no caso do Cristo quanto no caso do rei Melquisedeque) nada mais é do que o uso de imagens fortes(inspiradas, veja bem, em lendas do Zoroastrismo dos persas, em um Deus voltado para o mal em luta com o Deus do bem e em um juízo final) para chocar pessoas ainda incapazes de entender coisas mais profundas, sendo que a única coisa que fica nisso,a mensagem que interessava, é a prática do amor ao próximo. Essa foi a missão de Jesus na Terra, e não o ensino da existência da reencarnação, pois esta mal compreendida em toda a sua profundidade - como certamente seria entre um povo atrasado - certamente causaria problemas como indiferença pela vida, conformismo e até suicídio. Por isso mesmo estava a reencarnação entre os "mistérios". Cada coisa deve ser revelada no seu tempo.

  A explicação de Kardec no livro "A Gênese" sobre esse julgamento:

"Tendo que reinar na Terra o bem, necessário é sejam dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam acarretar-lhe perturbações. Deus permitiu que eles aí permanecessem o tempo de que precisavam para se melhorarem; mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus habitantes, o globo terráqueo tem de ascender na hierarquia dos mundos, interdito será ele, como morada, a encarnados e desencarnados que não hajam aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam em condições de aí receber. Serão exilados para mundos inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores. Essa separação, a que Jesus presidirá, é que se acha figurada por estas palavras sobre o juízo final: «Os bons passarão à minha direita e os maus à minha esquerda.» (Cap. XI, nos 31 e seguintes.)"

 E quanto a outra seita, a dos fariseus, escreveu Josepho:

  "Mas então quanto às duas ordens anteriormente mencionadas, os fariseus são aqueles estimados por sua habilidade na exata explicação de suas leis e introduzem a primeira seita. Estes atribuem tudo ao destino [ou providência] e a Deus, e embora deixe que o agir de forma correta ou o contrário esteja principalmente nas mãos dos homens, apesar de o destino, de fato, cooperar com cada ação. Dizem que todas as almas são incorruptíveis, mas que as almas dos bons homens apenas são movidas para outros corpos, - porém as almas dos maus são sujeitas ao castigo eterno. Mas os saduceus são os que compõem a segunda seita, e excluem inteiramente o destino, e supõem que Deus não está interessado se o que fazemos ou deixamos de fazer é mau; e dizem que o bom ou mal agir está na escolha dos homens, e que um ou outro, portanto, pertence a todos, que podem agir como bem entenderem. Também excluem a crença na duração imortal da alma, e nos castigos e recompensas no Hades.” (Guerra Judaica, livro II, cap. VIII)

 “Ademais, nossa lei ordena justamente que escravos que fogem de seus senhores deverão ser punidos, apesar de que o senhores dos quais eles fugiram tenham sido cruéis com eles. E nos atreveremos a fugir de Deus, que é o melhor de todos os senhores, e não sermos culpados de impiedade? Não sabes que os que partem desta vida conforme a lei da natureza e pagam a dívida que foi adquirida de Deus, quando ele, que no-la emprestou, fica prazeroso em pedi-la de volta, gozam de eterno renome; que suas casas e suas posteridades estão asseguradas, que suas almas são puras e obedientes e obtêm o mais sagrado lugar do paraíso, de onde, nos ciclos dos tempos, eles são novamente postos em corpos puros; enquanto as almas daqueles cujas mãos agiram desvairadamente contra si mesmos são recebidos nos lugares mais sombrios do Hades, onde Deus, que é o Pai deles, pune quem comente ofensa contra qualquer uma destas na sua posteridade? Por esta razão Deus odeia tais atos [de suicídio] e o crime é punido pelo nosso mais sábio legislador.(...)” (Guerra Judaica, livro III, cap VIII)

 Insistem alguns que Josepho falou sobre ressurreição no Juízo Final. Evidentemente ele falou da reencarnação, pois ser colocado em um novo corpo não é ressuscitar. E Josepho fala no tempo presente ("são movidas...", "eles são novamente postos"), e então está claro que isso acontece sempre e não acontecerá uma vez só em um juízo final, apesar dos fariseus, que seguiam também as várias crenças dos persas, acreditarem nisso também.

  O "corpo puro" também não tem nada a ver com o "corpo glorioso" da ressurreição cristã. É exatamente a mesma idéia do Livro da Sabedoria 8:19-20, onde lemos: “Eu era um menino vigoroso, dotado de uma alma excelente, ou antes, como era bom, eu vim a um corpo intacto. Hoje esse livro não faz parte da Bíblia protestante, mas faz parte da Bíblia Católica e faz parte da Septuaginta, o Velho Testamento em grego escrito em 250 AC. Querer dizer que Josepho falava do mesmo “corpo glorioso” que se diz hoje sobre as ressurreições é absurdo, pois o que o apóstolo Paulo fez foi misturar a idéia da ressurreição conforme os judeus entendiam com a idéia da sobrevivência da alma como os gregos entendiam. Não era crença dos fariseus uma ressurreição como a que Paulo ensinou.

  Também dizem não ser reencarnação porque apenas os bons reencarnam. Tá certo que para o Espiritismo a reencarnação é para todos, mas, mesmo que de uma maneira diferente da crença espírita, eles acreditavam na reencarnação. A afirmação de Josepho, pelo contrário, só confirma que para os judeus, os profetas como Elias, Jeremias e outros voltariam em novos corpos, ou seja, reencarnariam. Provavelmente, por isso mesmo Nicodemos não havia entendido muito bem as palavras de Jesus sobre a necessidade de qualquer um "Nascer de Novo" para ver o Reino de Deus, já que, ao que parece, para Nicodemos só os bons homens, como o profeta Elias, "nasceriam de novo". Da mesma forma que os essênios esperavam a volta de Melquisedeque como o Messias.      

   Então, perguntamos: Se os "mistérios" transmitidos aos 'iniciados" na Índia, Egito e Grécia e até entre os judeus  consistiam na existência das vidas sucessivas, e se Jesus ensinava a seus discípulos os "mistérios do mundo de Deus", prevenindo-os de que "aos de fora não se deve falar senão por parábolas" (leia-se atentamente Marcos 4:11), por que não estaria entre esses ensinamentos o da reencarnação, compreendendo-se  que os Evangelhos dela não falam abertamente, por ser matéria restrita aos "iniciados" ? Isso não explicaria o espanto de Jesus diante da ignorância de Nicodemos quanto ao "nascer de novo" em um diálogo bastante enigmático, a frase do Cristo "Quem tiver ouvidos de ouvir ouça" ao anunciar a vinda de Elias como João Batista demonstrando que nem todos estavam em condição de entender a reencarnação, o reconhecimento pelos apóstolos de que Jesus falava de João Batista ao anunciar que Elias havia vindo, mas não tinha sido reconhecido, a pergunta dos apóstolos quanto ao cego de nascença ter pecado...? Não parece que todos tinham conhecimento sobre reencarnação? Jesus, que sabia do pensamento íntimo de cada um, não combateu a idéia. Se fosse algo "satânico", "herético", deveria ter feito.

   Em Hebreus 5:10-14  Paulo se refere aos não "iniciados"  como "crianças que precisam de leite e não podem com alimentos sólidos" e que há muito o que dizer mas de difícil interpretação.

    Me parece claro que Jesus não falou claramente sobre reencarnação e outros assuntos aos seres humanos porque se encontrava frente a uma imaturidade muito grande para essas coisas. Jesus disse que O Consolador viria para revelar coisas que o povo ainda não tinha condições de suportar, o que prova que não ensinou tudo.   Cada revelação deve vir ao seu tempo e mesmo hoje muitos não compreendem muito bem o que representa a reencarnação. 

Vemos no Livro dos Espíritos:

"627 – Visto que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade do ensinamento dado pelos espíritos?
Terão a nos ensinar alguma coisa mais?

R – A palavra de Jesus era frequentemente alegórica e cheia de parábolas, porque falava segundo os tempos e os lugares. É necessário agora que a verdade seja inteligível para todo mundo. É preciso bem explicar e desenvolver essas leis, visto que há tão pouca gente que as compreende
e ainda menos que as pratica. Nossa missão é impressionar os olhos  e os ouvidos par a confundir os orgulhoso e desmascara os hipócritas: aqueles que tomam as aparências da virtude e da religião pra ocultarem suas torpezas. O ensinamento dos espíritos deve ser claro e inequívoco, a fim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-lo e apreciá-lo com a sua razão. Estamos encarregados de preparar o reino do bem anunciado por Jesus; por isso não é preciso que cada um interprete a lei de Deus  ao capricho de suas paixões , nem falseie o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.

628 – Por que a verdade não foi sempre colocada ao alcance de todo mundo?

R – É preciso que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz : é preciso nos habituar a ela, pouco a
pouco, de outra forma ela nos deslumbra.

Comentário de Kardec: Jamais ocorreu que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que lhe é dado receber hoje. Havia como sabeis, na antiguidade, alguns indivíduos possuidores do que consideravam uma ciência sacra, e da qual faziam mistério aos profanos, segundo eles. Deveis compreender com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles não recebiam senão algumas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e a maior parte do tempo simbólico. Entretanto, não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de grandes verdades que, ainda que pareçam contraditórias umas com as outras, esparsas que estão
no meio de acessórios sem fundamentos, são muito fáceis de coordenar, graças à chave que nos dá o espiritismo par um multidão de coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão e da qual, hoje a realidade vos é demonstrada de maneira irrecusável. Não negligencieis, portanto, de haurir objetos de estudos nesses materiais; eles são muito ricos e podem contribuir poderosamente para vossa instrução."

    A doutrina secreta, onde a reencarnação estava contida, se manteve em vigor por algum tempo entre os cristãos primitivos, mas é curioso observar que a reação contra ela partiu precisamente do Cristianismo, ao consolidar-se nos primeiros séculos da Era Cristã, talvez por ter sido ele a primeira religião a organizar-se em princípios rígidos, cedo cristalizados em dogmas que se faziam acompanhar de anátemas terríveis contra toda e qualquer idéia que os contrariasse. Trancou-se por essa forma o pensamento humano, e durante dezoito séculos, arvorando-se em intérprete soberana dos ensinamentos do Cristo, a Igreja impôs aos povos cristãos um regime de opressão e intolerância. É que os que já se julgavam "donos da verdade" compreenderam que com a reencarnação a morte deixava de ser um motivo de terror. Diversos escritos que comprovam a crença dos primeiros judeus e cristãos na reencarnação foram destruídos. Alguns felizmente foram descobertos mais tarde - caso dos pergaminhos com os evangelhos gnósticos  descobertos  em 1945, revelando um pouco da verdade que a Igreja tenta encobrir.

No livro Cristianismo e Espiritismo, Leon Denis diz:

  "Essa doutrina de esperança e de progresso não inspirava aos olhos dos chefes da Igreja, o suficiente terror da morte e do pecado. Não permitia firmar sobre bases convenientemente sólidas a autoridade do sacerdócio. O homem, podendo resgatar-se a si próprio das suas faltas, não necessitava do padre. O dom de profecia, a comunicação constante  com os Espíritos, eram forças que, sem cessar, minavam o poder da Igreja. Esta, assustada, resolveu pôr termo a luta, sufocando o profetismo. Impôs silêncio a todos os que, invisíveis ou humanos, no intuito de espiritualizar o Cristianismo, afirmavam idéias cuja elevação a amedrontava".

E também diz Denis em "Depois da Morte":

  "A Igreja, já não podendo  abrir à vontade as portas do paraíso e do inferno, via diminuir o seu poder e prestígio. Julgou portanto necessário impor silêncio aos partidários da Doutrina secreta, renunciar a toda comunicação com os espíritos e condenar os ensinos destes como inspirados pelo demônio. Desde esse dia Satanás foi ganhando cada vez mais importância na religião católica. Tudo o que a estava embaraçava, foi lhe atribuído. A Igreja declarou-se a única profecia viva e permanente, a única intérprete de Deus. Orígenes e os gnósticos foram condenados pelo Concílio de Constantinopla (553 d.C), a doutrina secreta desapareceu com os profetas e a Igreja pôde executar à vontade a sua obra de absolutismo e de imobilização (...) As sociedades secretas  que guardaram o ensino esotérico  (Alquimistas, Templários, Rosa-Cruzes, etc.) foram encarniçadamente perseguidas"

  Hoje os cristãos dizem que a reencarnação é  "herética",  "coisa do demônio" e que é um ensino pagão e não dos cristãos. A Igreja precisou criar essa idéia de que tudo no Paganismo é coisa do "diabo", para começar a sua dominação nas mentes. Agora, o curioso, veja só, é que do paganismo a Igreja pegou justamente o politeísmo. A crença em três deuses formando um só(a Trindade) está presente no Hinduismo e em várias crenças pagãs.  Isso porque esta satisfazia muito mais aos interesses da Igreja.


Bibliografia:

"O Espiritismo e as Igrejas Reformadas", Jayme Andrade

Sites: http://sef.feparana.com.br/apost/unid21.htm

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/unidual/curso-71.html

http://www.guia.heu.nom.br/reencarnacao_atraves_dos_tempos.htm

http://www.ade-pe.com.br/Pag_reli_art001_2003.html

http://www.mkow.com.br/apostilas/unid21.htm